15 de janeiro de 2010

A verdade sobre o sofrimento do Haiti

Matéria Retirada do Site: A Conspiração

Mesmo no seu momento de absoluta devastação, o Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental, ensina ao resto do mundo algumas verdades valiosas.

Esta nação insular do Caribe com nove milhões de habitantes tem neste exato momento um terço da sua população privada de abastecimentos básicos de comida, água, remédios ou abrigo. No piscar de um olho, o terremoto que atingiu o país enterrou uma capital de três milhões de pessoas sob entulho, pelo que a contagem final de mortos pode ir de 100 mil a 500 mil pessoas. Assim, sem mais nem menos.

Tal como o fecho da porta do estábulo proverbial após a fuga do cavalo, os EUA e outras potências mundiais estão prometendo o envio de ajuda de emergência ao Haiti. É bem intencionado, sem dúvida. Mas onde estava a ajuda e a assistência ao desenvolvimento econômico ao Haiti – mais da metade da população vive com US$1 por dia e 80 por cento é classificada como pobre – nos anos anteriores a esta calamidade?

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A pobreza do Haiti – tal como a de outros países pobre atingidos por desastres naturais – deixa o seu povo totalmente exposto à espécie de devastação que se abaste sobre ele. E sem dúvida a pobreza do Haiti não é apenas um bocado de má sorte ou alguma coisa fundamentalmente errada quanto aos seus recursos naturais e ao seu povo. O país tem sido mantido subdesenvolvido por décadas de interferência política e econômica de Washington a fim de assegurar que esta antiga colônia de escravos continue a servir como uma fonte barata de exportações agrícolas para os EUA e como uma fonte de trabalho semi-escravo para corporações americanas que fabricam têxteis e outros bens de consumo.

(comentário revelatti - só um detalhe: o Haiti foi o primeiro país da américa latina a se declarar independente e se livrar da escravidão, o que deve ser um motivo de ódio por parte da elite e talvez seja a real razão de tanta miséria e sofrimento desse povo...)

Enquanto Washington gasta US$ 1 trilhão em guerras alegadamente para combater a 'ameaça do terrorismo', os pobres do Haiti – cuja economia é avaliada em US$7 bilhões – mostram-nos uma sóbria perspectiva do que é uma ameaça real. Vivemos num mundo físico onde inundações, tsunamis e terremotos acontecem. Estes desastres levam muito mais vidas do que as ameaças que obcecam os EUA e com as quais gastam muito mais dinheiro. Pode imaginar quantas vivas poderiam ter sido salvas no terremoto do Haiti se uma fracção do dinheiro dissipado em guerras fúteis houvesse sido dirigida ao desenvolvimento econômico e social daquele país?

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Naturalmente, a moral e a lógica sensata desta ideia não se aplica num mundo ditado pela política externa de Washington. Isto é assim devido aos imperativos e à lógica do capitalismo conduzido pelos EUA, o qual exige que países como o Haiti sejam mantidos num estado de pobreza em prol do lucro corporativo e que exige a fixação de ameaças ilusórias para encobrir a sua necessidade de controlar recursos geopolíticos (principalmente energia). Esta é a face verdadeira do sistema econômico que Washington e seus aliados impõem ao mundo. E o Haiti arrancou a máscara desta cara feia.

A angustiante aflição e o sofrimento do Haiti ensina-nos ainda outra coisa. Relatos de cortar o coração de ruas cheias de cadáveres e sangue a escorrer de debaixo do entulho, crianças a chorarem pelos pais, pais a escavarem com os seus dedos à procura dos filhos, o som de vozes moribundas a encherem a escuridão da noite. Isto é o horror de centenas de milhares de pessoas subitamente afundadas no sofrimento. Alguns observadores compararam o que aconteceu no Haiti às consequências de uma bomba atômica. De modo que da próxima vez em que numa manhã de domingo um porta-voz de Washington acenar em fóruns de chat com planos para destruir o Irã – a outra "ameaça séria" (o que quer dizer nenhuma ameaça séria) – deveríamos recordar: isto é ao que se assemelha o sofrimento humano em escala maciça.

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