O que ocorre quando a presença alienígena na Terra é vista com seriedade e recebe tratamento oficial por parte dos governos
Objetos voadores não identificados são constantemente observados em Paris |
Onda Ufológica - O CEFAA cresceu significativamente nos últimos anos. A entidade se fortaleceu bastante a partir de uma grande onda ufológica que o Chile experimentou em 1997. Mas foi mesmo a partir de 2000 que o compromisso das Forças Armadas chilenas com a busca de respostas para o Fenômeno UFO ficou ainda mais evidente. Em março daquele ano, por ocasião da Feira Internacional do Ar (FIDAE), a mais importante exibição de tecnologia aeroespacial do Chile, um workshop oficial do evento tratou exclusivamente de Ufologia. O evento contou com a presença de renomados ufólogos de diversos países, entre eles o doutor Richard Haines, ex-consultor da CIA para o assunto; o escritor Juan José Benítez, autor da série Operação Cavalo de Tróia; o engenheiro francês Jean-Jacques Velasco, um dos colaboradores do polêmico Dossiê Cometa [Veja matéria em Ufo 73]; além do próprio Fuenzalida, acadêmicos chilenos e a direção do CEFAA. Foi um marco para a Ufologia Chilena. O grupo de debates formado no evento assinou conjuntamente um documento que, entre outras conclusões, afirmava que “os antecedentes largamente discutidos no workshop indicam que os fenômenos aéreos anômalos são reais e neles estão inseridos incidentes com objetos voadores não identificados, que são raros e aleatórios, mas específicos”. Além disso, segundo o documento, “os estudos sérios realizados até esta data não lograram êxito em resolver as infinidades de incógnitas que envolvem este controvertido assunto, o que leva à atual impossibilidade de se avançar algumas teorias até encontrar respostas validadas cientificamente”.
Para chegar a estas conclusões, neste que foi um dos eventos mais importantes da história da pesquisa ufológica no Chile, muitos momentos de tensão ocorreram entre os debatedores. Os civis pediam com veemência que os militares liberassem suas informações de uma vez por todas. Uma das horas mais tensas foi quando o autor espanhol Benítez pediu que o grupo da FIDAE colocasse ao final do relatório a requisição oficial para que a Força Aérea Chilena (FAC) abrisse seus arquivos. Um general reagiu imediatamente e garantiu que a FAC não detinha mais segredos “reveláveis”, o que foi evidentemente contestado. Seu cuidado é justificado diante do contexto que levou à criação do comitê, de natureza mista civil-militar. Existe um zelo especial no estabelecimento de critérios acerca do que seria o objeto de estudos do programa chileno, para evitar as excentricidades típicas da Ufologia. Além disso, os membros militares do CEFAA temem ficar estigmatizados por validarem aquilo que, para a população em geral, seria uma “crença de malucos”.
Troca de Informações - A experiência chilena tem sido bem sucedida no sentido de produzir uma troca de informações fluente nos dois sentidos, tanto militar quanto civil. Melhor ainda, o Grupo FIDAE – como ficou conhecido o elenco de pesquisadores que se reuniu no histórico workshop – estabeleceu como meta de trabalho buscar parcerias e cooperação internacional. “Mas há de se entender que é necessário ter maturidade suficiente. A Ufologia Mística deve ser, senão combatida, aceita apenas com efeito sociológico. É preciso saber que ela não dá respostas para um fenômeno que é mais complexo do que imaginamos”. Até essa altura, a pesquisa conjunta já produziu alguns casos importantes e algumas boas respostas. Ao compararem o trabalho do CEFAA com o do Cridovni, do Uruguai, os ufólogos chilenos identificaram diferenças metodológicas. Primeiro, embora seja uma iniciativa oficial e conte com alguma participação de civis, o Cridovni ainda é fundamentalmente uma empreitada sob o controle das Forças Armadas uruguaias, e tem uma estrutura bastante precária. De qualquer forma, apesar das diferenças e das dificuldades inerentes ao processo de pesquisa ufológica – como a recusa da delegação militar chilena em abrir completamente seus arquivos – ambas as entidades representam passos importantes no sentido de buscar respostas e soluções para o Fenômeno UFO. Ainda que essas possam ter, de fato, caráter insólito e talvez até alienígena, como defende a maioria dos grupos civis de pesquisas ufológicas.
No entanto, os dois comitês não são casos isolados de iniciativas em que ocorreu envolvimento oficial e governamental com o assunto UFO. No dia 13 de julho de 1999, o Comitê de Estudos Avançados da França – o chamado Comitê Cometa – entregou ao presidente Jacques Chirac e ao seu primeiro-ministro Lionel Jospin um documento bombástico. Era o Dossiê Cometa, como foi chamado o relatório preparado por um grupo de pesquisadores civis e militares, na maioria acadêmicos e ex-membros de altos postos do programa espacial ou da defesa francesa. Sob a presidência do general do Exército-do-Ar Denis Letty e com a participação de vários notáveis – entre eles o físico Jean-Jacques Velasco –, o Cometa publicou parte de suas conclusões de forma absolutamente polêmica na revista VSD, uma publicação jornalística de grande prestígio na França.
Problema Diplomático - Entre as afirmações do dossiê, estava a admissão pública de “uma forte possibilidade da origem dos UFOs ser alienígena”. O documento contou ainda com avaliações acerca do comportamento inteligente dos objetos voadores não identificados e a existência de uma forte manipulação de dados para desinformação do público e acobertamento de evidências. Segundo o relatório, um contexto bem documentado “obriga as autoridades a encararem todas as questões sobre a origem, natureza e características do Fenômeno UFO. Em particular, a hipótese extraterrestre”. Curiosamente, embora considerado extremamente polêmico e contendo manifestações de cientistas de credibilidade ímpar para um documento com esse teor, o Dossiê Cometa não foi bem recebido pela imprensa. Em parte, talvez por ter sido considerado um relatório oficioso, e não oficial. Simplesmente não houve chancela governamental no documento, embora fosse de conhecimento público a participação de representantes estatais no projeto. Segundo muitos analistas e pesquisadores franceses e estrangeiros, talvez a medida tenha sido premeditada. Isso porque o documento continha duras críticas ao que considerou “política de desinformação e acobertamento”, levada a cabo pelos Estados Unidos. Esse posicionamento, caso chancelado pelo governo, representaria um terrível problema para a diplomacia francesa. Pode também ter sido esta a razão que levou o Dossiê Cometa a ser emitido por outra organização que não o Serviço de Análise de Fenômenos de Reentradas Atmosféricas (SEPRA), uma espécie de substituto para o antigo Grupo de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificáveis (GEPAN), criado em 1976 pelo governo francês. A iniciativa, no entanto, está a anos-luz de distância de suas similares norte-americanas. Os Estados Unidos também tiveram seus órgãos oficiais de pesquisas de UFOs. O mais famoso deles, da década de 60, virou até seriado de televisão: o Projeto Blue Book. No entanto, nenhuma conclusão dessas iniciativas – quando existiram – foram aceitas pela comunidade ufológica internacional, que insiste na existência de desinformação e acobertamento em nome de interesses escusos.
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