24 de dezembro de 2008

Quem são os ufonautas?

Seja qual for a intenção dos ufonautas, o simples fato de surgirem inesperadamente em um ambiente que não está preparado para entendê-los já denota um modus operandi invasivo e perturbador. As armas que utilizam, tanto para repelir uma eventual agressão como para atacar deliberadamente, muitas vezes gratuitamente e com requintes de sadismo, não são “inofensivas” como alegam os partidários da corrente angelical da Ufologia, mas bastante contundentes e até excessivas. Mais do que paralisantes ou atordoantes, seus raios luminosos chegam a cegar, podem ser cancerígenos, vampirescos e até fulminantes, como foi apresentado no artigo Raios de Luz que Ferem e Matam [Veja UFO Especial 030]. Cabe ressaltar que o uso “civilizado” desse poder jamais se faz desacompanhado de uma teatralidade planejada, pois é parte do exercício do mesmo. O palco, o cenário e os figurinos são cuidadosamente arranjados e a ação, bem ensaiada. O espetáculo é montado preferencialmente em lugares ermos, afastados e isolados, geralmente em períodos noturnos e em horas intempestivas. Abusa-se de uma impressionante mis-en-scêne, com uso de luzes que piscam incessantemente e até hipnotizam, sons monótonos e repetitivos, indutores de estado de catalepsia e torpor, liberação de substâncias químicas irritantes ou sufocantes etc. A arte de nossos visitantes é, por sua própria natureza, performática.

Estetização da violência, teatro da crueldade ou festival de absurdos? Não importa a nomenclatura que se dê às ameaçadoras encenações desses seres. Mesmo as de baixo grau de intensidade são perigosas o bastante para desencadear distúrbios e traumas mentais muitas vezes irreversíveis nas vítimas. Já entrevistamos dezenas de testemunhas cujas vidas foram seriamente prejudicadas. Em nossas visitas a hospitais psiquiátricos, temos encontrado pacientes internados há anos e até décadas em decorrência do encontro com “inocentes” luzes noturnas [Veja UFO 049]. As seqüelas são catastróficas e duradouras: choque nervoso, estados febris e delirantes, paranóia, Síndrome do Pânico, depressão, insônia, pesadelos, amnésia, enxaqueca, náusea, cólicas e desmaios prolongados. Muitos têm os membros paralisados ou inutilizados, além de apresentar hemorragias, tumores cancerígenos, queimaduras etc.

O homem que derreteu É deveras significativo que um dos casos clássicos da Ufologia seja um exemplo de comportamento hostil, reunindo as peculiaridades da imprevisibilidade, sadismo e rudeza. Há 61 anos, no dia 04 de março de 1946, uma segunda-feira de Carnaval, mais de um ano antes do início da Era Moderna dos Discos Voadores, o lavrador João Prestes Filho, 44 anos, e Salvador dos Santos – ambos moradores do Bairro Cotiano, da então Vila de Araçariguama, distrito da cidade de São Roque, a cerca de 70 km de São Paulo – foram pescar às margens do Rio Tietê. Ao anoitecer, por volta das 19h00, começou uma chuva fina e persistente, e ambos resolveram voltar para suas casas. Prestes Filho havia combinado com sua esposa Silvina Nunes Prestes que trancasse a porta ao sair para os festejos, já que ele adentraria pela janela, que deveria ficar apenas encostada. Quando empurrou a janela, no entanto, uma luz fortíssima vinda do alto lhe acertou em cheio no rosto. O clarão ofuscante queimou-lhe toda a parte desnuda do corpo – estava com camisa de mangas curtas desabotoada até a metade, calças arregaçadas, sem chapéu e de pés descalços – e só não lhe queimou os olhos porque ele os protegeu com as mãos. Abalado, correu alucinado em direção à casa de sua irmã Maria, distante uns dois quilômetros. Gritava e pedia socorro: “Me acuda, me acuda...” Várias pessoas atenderam o chamado: sua irmã, os comerciantes Jonas de Souza e Guilherme da Silva, o corretor de imóveis João Gennari, o arrecadador de impostos da Prefeitura de São Roque, o tesoureiro de Araçariguama Araci Gomide, que também atuava como boticário nas horas vagas e servira o Exército junto com Prestes Filho, e o delegado João Malaquias.

O rapaz não apresentava sinais de ferimentos externos nem sentia dor, mas seus olhos arregalados estampavam pavor. Sua pele estava enrugada, como se tivesse sido cozida em água fervente. De repente, os músculos começaram a se desprender dos ossos, aos pedaços, trazendo “o horror mais espantoso que poderia ter surgido na mente dos presentes”, segundo relatou Antonio Las Heras em seu livro Informe sobre los Visitantes Extraterrestres y sus Naves Voladoras [Relatório sobre os Visitantes Extraterrenos e suas Naves Voadoras, Editora Rodolfo Alonso, 1974]. O jornalista e ufólogo Adilson Machado escreveu a propósito que, “aturdidos, os amigos e parentes viam as carnes de João se soltando, rolando sobre o lençol e o assoalho. Primeiro caíram os músculos dos braços, seguidos pelos do peito, das mãos e das partes inferiores do corpo”. Os ossos e os nervos iam ficando descobertos. O inspetor Gomide viu o nariz e as orelhas de Prestes Filho se desprenderem e rolarem até o chão. Por incrível que pareça, a vítima continuava lúcida, acompanhando tudo. Com a boca deformada, ainda tentava falar, mas não conseguia articular as palavras. Para comunicar-se, o rapaz agora movia a cabeça, e com extrema dificuldade. Colocaram-no num caminhão e foram para a Santa Casa, no município vizinho de Santana de Parnaíba, à 19 km. O médico Luiz Caligiuri, ao ver o estado do paciente, que descarnava ao menor movimento, desenganou-o. Apenas três horas depois do incidente, às 22h00, Prestes Filho morreu. A causa mortis apontada por Caligiuri na certidão de óbito, emitida pelo Cartório de Santana de Parnaíba, foi “colapso cardíaco e queimaduras generalizadas de primeiro e segundo graus”.

Repercussão mundial — Em setembro de 1971, Felipe Machado Carrion, professor de cosmologia do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, de Porto Alegre (RS), e autor do livro Discos Voadores: Imprevisíveis e Conturbadores [Editora Gráfica Educandário São Luiz, 1968], participou em São Paulo do IV Colóquio Brasileiro sobre UFOs. Na ocasião, tomou conhecimento do Caso Prestes por meio do dentista Irineu José da Silveira – um dos primeiros a pesquisá-lo –, que alguns meses depois enviou-lhe o relatório completo a respeito. O material serviu de base para o artigo de Carrion publicado na revista belga Phénomènes Spatiaux e, mais tarde, traduzido para o boletim Stendek, do Centro de Estudos Interplanetários (CEI), de Barcelona, Espanha. Em dezembro de 1972, o médico Walter Karl Bühler, então presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voadores (SBEDV), procurou Irineu Silveira e Tito Lívio Gigliardi, a fim de apurar informações mais precisas sobre o fato. Bühler, defensor da filosofia de “fraternidade cósmica”, do contatado George Adamski, soube que em meados daquele ano uma equipe de pesquisadores – composta por Silveira, Gabliardi, Raul Calfat, Jonas de Souza, Guilherme da Silva Pontes e João Genari – tentou obter novos elementos que confirmassem o relato de Gomide. Ele opunha-se aos acontecimentos e tinha a tendência de destratar a maioria dos fenômenos de agressão e morte causados pelos ocupantes dos UFOs, por mais claros e evidentes que fossem. Assim, concluiu-se que Prestes morreu em decorrência de queimaduras por lampião ou querosene.



Cena no filme A Guerra dos Mundos, com Tom Cruise, mostra que não há o que fazer quando se é alvo de seres extraterrestres. Uma abdução planejada para ocorrer é inevitável

Essa hipótese nunca foi aceita, até porque esse tipo de morte ocorre em conseqüência da gravidade de ferimentos de terceiro grau, que ultrapassam cerca de 50% do corpo, ou por choque hipovolêmico, crise aguda de insuficiência cardiovascular, causada geralmente por hemorragias graves ou desidratação, em que a perda de sangue leva à diminuição da pressão arterial. Nestes casos, a vítima falece imediatamente ou sobrevive por alguns dias, até que os rins são afetados e a morte é inevitável. Em 15 de setembro de 1973, o ufólogo Max Berezovsky, presidente da Associação de Pesquisas Exológicas (APEX), juntamente com os ufólogos Guilherme Willi Wirz, João Evangelista Ferraz, E. Krishna Anaken, William Lee Júnior e pesquisadores da Associação Brasileira de Estudos das Civilizações Extraterrestres (ABECE), foi recebido em São Roque pela equipe de pesquisadores acima descrita. Todos traçaram planos preliminares para a pesquisa do caso. No ano seguinte, em 28 de setembro, Wirz, Ivone Brandão, Luiz Jesus Braga Cavalcanti de Araújo e Fernando Grossmann voltaram à cidade e entrevistaram Araci Gomide, que morava num sítio às margens do Rio Tietê e era amigo de Prestes Filho. Por ter exercido a enfermagem nas Forças Armadas, ele foi chamado para socorrê-lo cerca de duas horas depois do incidente com a misteriosa luz. Na ocasião, ao ver o estado do colega, perguntou-lhe quem havia feito aquilo, pois parecia ter sido escaldado em água fervente. Prestes Filho, ainda perfeitamente lúcido, respondeu: “Ninguém me queimou, nem com água ou fogo”. Mas ele não sabia exatamente o que tinha acontecido.

Escaldado em água fervente — Questionado se estava com alguma dor, pois tinha os músculos se soltando dos ossos, disse que não sentia nada. Além disso, nenhuma parte de seu corpo estava chamuscada: nem os cabelos, pêlos ou roupas. Gomide aproximou-se da vítima e o cheirou. Não sentiu odor de queimaduras ou mesmo de combustível, como querosene ou álcool. De acordo com o enfermeiro, a vítima também não estava alcoolizada. Grossmann e Araújo concluíram que Prestes Filho não foi queimado por chama oriunda de combustíveis convencionais, nem por algum líquido muito quente. Mas não sabiam o que havia acontecido exatamente. Durante sua viagem ao Brasil, em abril de 1980, o astrofísico francês Jacques Vallée conferiu prioridade máxima às ocorrências em que o contato com UFOs resultava em infortúnio semelhante ao de Prestes Filho ou então ao Caso das Máscaras de Chumbo [Veja UFO 087]. Vallée pesquisou minuciosamente esse último fato, ocorrido na década de 60, e chegou a visitar o local do incidente, no Morro do Vintém, em Niterói (RJ). Na ocasião, nenhum sinal de violência ou luta foi encontrado em Miguel José Viana e Manoel Pereira da Cruz, que faleceram em decorrência de uma sinistra experiência. Seus corpos estavam próximos, um ao lado do outro, deitados de costas no chão.

Várias coisas chamaram à atenção da polícia, como um par de óculos pretos com uma aliança em uma das hastes, um lenço com as iniciais M. A. S., duas máscaras de chumbo e um papel com equações básicas de eletrônica. Uma delas era a Lei de Ohm, envolvendo potência, tensão, corrente e resistência. Junto disso estava um curioso pedaço de papel com os dizeres: “16h30 – Estar no local determinado. 18h30 – Ingerir cápsula. Após efeito, proteger metais. Aguardar sinal – Máscara”. Assim como o de Prestes Filho, esse caso também não foi solucionado. Até mesmo a autópsia realizada nos cadáveres, pelo médico legista Astor Pereira de Melo, nada revelou como causa da morte dos rapazes, pois não havia sinais de violência, envenenamento ou distúrbios orgânicos. Nem mesmo indícios de contaminação por radioatividade. Vallée alarmou-se ao constatar que a lista de vítimas desse tipo de agressão – que parte de seres extraterrestres – era maior do que se poderia pensar examinando a literatura ufológica. E o primeiro nome da relação era justamente o de João Prestes Filho.

Clarão que mata — Na segunda metade da década de 90, após permanecer vários anos sem quaisquer novidades, resgatamos a ocorrência com o auxílio do consultor de UFO Pablo Villarrubia Mauso, e redigimos extensas matérias em que foi apresentada grande parte dos resultados das análises. Elaboramos uma reconstituição do histórico acontecimento, inferindo algumas conclusões, citando documentos, narrando as viagens à região e transcrevendo as entrevistas que realizamos com antigos moradores que presenciaram a agonia de Prestes Filho e a aparição constante de fenômenos luminosos – que há décadas fazem evoluções caprichosamente pelo céu noturno, infundindo pavor, inquietação e enriquecendo a tradição folclórica local [Veja UFO 060]. Na década de 70, o jovem pesquisador de astronáutica e Ufologia Gustavo Correa entrevistou o ex-vice-prefeito e então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Roque, Dante Bastos, e a moradora Flora Maria de Mattos Fernandes. Bastos relatou que certa vez observou de sua chácara que “um desses objetos vinha do sul, enquanto que um avião bimotor rumava no sentido norte. Os dois estavam em rota de colisão. Quando já bastante próximos um do outro, o objeto não identificado desviou bruscamente para cima, continuando a aeronave em sua rota normal”. Na época, ele empregava cerca de 20 homens em sua propriedade rural e muitos deles, senão todos, já tinham avistado tais artefatos. Um desses trabalhadores, Jurandir Pereira, disse que certo dia, ao levantar-se, às 05h00, viu um UFO metálico e semelhante a uma bacia virada para baixo.

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