São vários os mecanismos das abduções alienígenas e os fatores psicológicos que podem levar à sensação de se estar sendo raptado por ETs. Este texto explora a ocorrência do fenômeno principalmente com | |||
Um dos aspectos mais relevantes da ciência é que ela nos disponibiliza instrumentos capazes de elucidar o fenômeno analisado. E, ao contrário do que muitos estudiosos pensam, tal conceito é perfeitamente aplicável à Ufologia, mormente ao campo das chamadas abduções. Não há, entretanto, um consenso em torno da origem do fenômeno. Ecoa uma profusão de vozes discordantes, que confundem e atrapalham as discussões. Uns são a favor da hipótese extraterrestre, segundo a qual alienígenas atuariam como cientistas realizando testes em animais e seres humanos a bordo de suas máquinas complexas. Outros – e nessa categoria se inclui a maior parte da comunidade científica – encaram e reduzem todo o fenômeno em termos estritamente sociológicos e psicológicos. A resolução do mistério da Ufologia começa necessariamente por uma aproximação mais direta com esse complexo fenômeno. A partir daí, estruturam-se as hipóteses pertinentes e avalia-se o que possuem de verdadeiro. Céticos e críticos pretenderam explicar o fenômeno sem nem sequer terem saído a campo e entrevistado uma única testemunha de contato simples ou de abduções. Seus juízos de valor não comportam uma compreensão profunda da dita experiência, concentrando-se em pseudo-conjecturas revestidas de preconceitos e destituídas de fundamento. Não me refiro apenas às críticas do cético fanático, caracterizado pela ausência de flexibilidade mental, mas também aos dogmas dos crentes no Fenômeno UFO, afeitos a explicar e reduzir tudo à hipótese extraterrestre. Os critérios utilizados para selecionar os objetos de estudo da Ufologia surgem basicamente das notícias das próprias pessoas, sejam testemunhas de UFOs, seqüestradas por ETs ou vítimas de outras experiências bizarras. Suas vivências costumam ser primeiro submetidas à avaliação psiquiátrica. Se a experiência ultrapassa os limites dessa disciplina – havendo, por exemplo, a confirmação por parte de outras testemunhas ou indícios atestando a materialidade do UFO ou do fenômeno a ele relacionado –, procede-se à investigação ufológica propriamente dita, centrada nas testemunhas principais da ocorrência. Limites da compreensão — As abduções, no meu entender, são os casos mais interessantes, pois na maioria das vezes ultrapassam os limites da compreensão a ponto de exacerbar as hipóteses convencionais – alucinações, patologias, alteração da consciência etc –, lançando-nos em uma dimensão antes desconhecida da realidade. Devemos avaliar cuidadosamente o quadro geral dos seqüestrados, e isso somente é possível com enfoque científico, por vezes ainda negligenciado nos meios ufológicos de todo o mundo – em especial do Chile, onde atuo e onde impera a desorganização e a precariedade de condições estruturais e intelectuais. A partir do instante em que um grupo de pessoas começa a relatar experiências comprometedoras de seus estados emocionais, intelectuais e físicos, típicos de um caso de abdução, nos vemos diante de uma situação passível de ser reduzida a uma apreciação mais primária, de cunho psicossociológico. É perfeitamente possível estabelecer a influência cultural nos conteúdos de determinados relatos de abdução, identificando a construção do argumento com o padrão de seriados de televisão, filmes, livros de ficção científica etc. Aprimorando a ciência — Em muitas dessas experiências os componentes de maior impacto referem-se à origem dos prováveis raptores e as circunstâncias do fato. Tal constatação já justifica a atenção por parte de profissionais da área da saúde mental – psicólogos e psiquiatras – e da sociologia, e como conseqüência induz a identificação dos fatores psicológicos e sociais envolvidos. Ademais, se houver indícios mensuráveis em termos empíricos, como fotos, filmes, vestígios químicos, resíduos metálicos e outros, deverão ser submetidos à análise em um laboratório competente. Seria possível assim trazer à tona uma realidade objetiva e independente do protagonista dessas vivências, dando margem a conjecturas sobre a origem externa do fenômeno, situando-o em um contexto muito mais amplo. A Ufologia, por sua própria natureza multifacetada, é considerada uma área potencial de estudos, pois gera demanda de praticamente todas as ciências, como se verificou no conclave sobre abduções realizado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts [Massachusetts Institute of Technology, MIT], marco no avanço do reconhecimento da relevância desse complexo fenômeno para o saber humano. A Ufologia tem contribuído sobremaneira para o aprimoramento da própria ciência, estimulando o seu desenvolvimento mediante o comprometimento de profissionais em distintos projetos de pesquisa por todo o mundo. Estudos e teses têm sido elaborados em várias universidades, departamentos e institutos de pesquisa, seguindo uma linha científica rigorosa. Esforços e recursos são aliados e produzem resultados animadores. No entanto, ainda se faz necessária, sem dúvida, uma aguda crítica às investigações do fenômeno das abduções, particularmente aquelas realizadas no Chile. Os poucos grupos ufológicos amadores que surgiram entre os anos 70 e 90 no país foram incapazes de abordar de maneira séria essa problemática. Havia situações patéticas com relação ao modo de encarar notícias dessa natureza por parte dos aficionados por UFOs. Certa vez, por exemplo, uma mulher se apresentou em um desses verdadeiros “clubes de discos voadores” informando estar vivenciando uma abdução. Ela apresentava marcas pelo corpo, certa consciência sobre sua experiência e algumas situações de amnésia. A atitude dos “investigadores” foi a de somente escutá-la. Não tomaram nenhuma iniciativa de procurar um psicólogo ou hipnólogo, e nem sequer a entrevistaram para buscar antecedentes de avistamentos ou abduções. Tampouco traçaram um perfil psicológico e histórico da abduzida ou sondaram a área onde ela disse ter vivido suas experiências. Ausência de testes psicológicos — O único esforço feito por outro grupo de ufólogos, para validar o relato de outro caso de abdução, foi o de compará-lo a uma experiência similar, encontrando apenas uma característica comum. Ou seja, a veracidade do relato estava baseada na casual coincidência de um detalhe repetido em outra suposta abdução. Neste caso, igualmente, é até desnecessário dizer, testes psicológicos não foram aplicados. Ocorrências clássicas como a do cabo do Exército Chileno Armando Valdés – seqüestrado por uma luz desconhecida na madrugada de 25 de abril de 1977, que teria vivido cinco dias em apenas alguns minutos, conforme indicava a sua barba crescida [Veja box na seção Mensagem do Editor] –, nunca tiveram prosseguimento científico e menos ainda trato responsável. Para se ter uma idéia, Valdés chegou a ser submetido a degradantes sessões de eletrochoque, que lhe deixaram seqüelas muito piores às acarretadas por seus supostos raptores extraterrestres. Seu estado emocional foi tão abalado que não permitiu um trabalho de análise mais rigorosa. A combinação de vários fatores desfavoráveis impediu a investigação científica de certas denúncias. Todavia, desde os anos 40 são registradas em todo o mundo – e mais uma vez, especialmente no Chile – ocorrências com as mesmas características do Caso Valdés. Trata-se de um importante antecedente a ser considerado. Os produtos ufológicos, cada vez mais consumidos por todos, como programas de televisão e literatura de ficção científica, podem ter influenciado na propagação de ocorrências inusitadas como as abduções alienígenas? Em um caso de 1943, a preceptora, ao observar uma entidade não identificada, pequena e microcéfala, desmaiou ante o impacto da vivência. A criatura, antes de desaparecer, deixou duas pegadas formadas por um líquido viscoso. A ficção científica já não teria antecipado experiências como essa? Para prejuízo da Ufologia, muitos ufólogos, por incapacidade, desinformação ou falta de recursos, negligenciaram esses aspectos, deixando-os se perderem no tempo. Resgatando casos clássicos — Nosso grupo, a Associação de Investigações Ovniológicas Nacionais (AION), está atualmente tentando preencher esse vazio mediante um projeto denominado ABD, coordenado pelo doutor Mário Dussuel e com a participação e apoio de vários investigadores. Em primeira instância, os estudiosos resgatam e agrupam antigos casos de seqüestros. Na etapa seguinte, procuram saber o paradeiro dos seus protagonistas para agendamento de entrevista pessoal, caso ainda queiram falar de suas experiências. Posteriormente, é feita uma avaliação de suas vidas, para atestar a veracidade do relato. As pesquisas algumas vezes não se concluem de imediato, requerendo acompanhamento. Um dos tópicos relevantes desse projeto é a análise da influência dos meios de comunicação – sobretudo da televisão e do cinema, com seus seriados e filmes de ficção científica – junto ao grande público. Se por um lado os efeitos culturais são lancinantes, por outro não chegam a representar parcela significativa dos casos de contatos imediatos. Ou seja, a influência, em termos ufológicos, é um tanto débil. Principalmente dos Estados Unidos nos chegam múltiplos casos de abduções espetaculares, em que as evidências estão circunscritas ao mero relato da testemunha. Não há limites para o abduzido – sua fantasia corre solta, superando a de muitos autores de ficção científica. Quando analisamos a consistência interna desses relatos, no entanto, deparamo-nos quase sempre com uma repetição enfadonha dos conteúdos proporcionados por uma verdadeira subcultura ufológica. Hibridizações extraterrestres surgem por todos os lados, confundindo-se e concorrendo com seriados como Arquivo X [X Files, criado por Chris Carter em 1993] e uma mixórdia de produtos vendidos em lojas especializadas e até em supermercados. |
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