7 de outubro de 2009

O dia em que não fizermos contato


Proponho neste texto um exercício de imaginação e gostaria de fazê-lo em conjunto com você, leitor. Vamos supor que a partir de agora não haja mais nenhuma manifestação ufológica. Nem naves, nem seres, nem mensagens, nem sondas. Os seres extraterrestres sumiram. Imagine que, após 60 anos de pesquisas ainda não concluídas, o Fenômeno UFO pára. Seria o fim de um sonho? Ou será que seria apenas o começo de um longo caminho de volta às origens? Esses mais 60 anos de visitas evidenciaram muitas coisas. Partindo-se do pressuposto de que essas naves sejam realmente alienígenas, a primeira evidência é a de que não somos os únicos no universo e nem os melhores em tecnologia. Significa também que não somos tão bons em estratégia, pois não conseguimos em seis décadas descobrir qual o objetivo dessas aparições. Fica clara também nossa prepotência e visão limitada, já que, ao sermos visitados ao redor de todo o globo por inteligências maiores que a nossa, grande parte da população simplesmente decidiu que elas não existem realmente, apenas na imaginação literária e cinematográfica. E as pessoas que passaram anos a fio de suas vidas se dedicando ao assunto? Eu arriscaria dizer que elas não precisam que os ETs continuem a aparecer para desenvolverem seus estudos. A simples ocorrência de um avistamento já seria o suficiente para que passassem a vida toda mergulhadas no estudo dos comos, ondes e porquês deste fenômeno. Mas, afinal, qual o propósito desse raciocínio? Simplesmente mudar o referencial, alterar as perspectivas.

Gerações em perigo - Nós, humanos, temos a tendência de pensar que tudo existe em função de nossas necessidades. É a tendência de nos colocarmos acima da ordem natural das coisas. Fizemos isso com a água, e ela está acabando. Fizemos com o petróleo, e ele também está se esgotando. Fizemos com o ar, e colocamos nossas futuras gerações em perigo. Da mesma maneira, partimos do pressuposto de que nossos visitantes vêm à Terra porque somos importantes, ou porque temos algo valoroso que lhes interessa. Ou ainda, porque eles não conhecem ou perderam suas emoções, e nós, feitos à imagem e semelhança de Deus, somos os únicos nesse incomensurável universo que podemos salvá-los. Isso lembra muito o tempo em que éramos o umbigo do Cosmos, quando tudo girava ao nosso redor. O fato é que – seja qual for a razão que as motiva – as manifestações ufológicas deixam um claro recado nada agradável, nem elogiando a espécie humana. Deixam a mensagem da nossa ignorância, da nossa incapacidade de entendimento planetário, do nosso comportamento destrutivo em relação a casa que habitamos, nosso preconceito e mesquinhez. Caso amanhã eles sumam, já cumpriram uma grande missão e nos deixaram uma enorme tarefa: aprendermos a ser humanos e a entender que já vai longe o tempo das cavernas, quando qualquer povo que adentrasse nosso campo de caça era tratado como inimigo. Que instintos ferozes que usávamos para sobreviver num mundo inóspito, hoje podem e devem ser usados para que possamos viver num mundo acolhedor.

Cabe a eles nos ensinar a cura das doenças, a forma de viajar pelo espaço, a usar nossa inteligência de forma “inteligente”? Novamente, estamos transferindo a responsabilidade de nosso amadurecimento para longe de nós e colocando-a “nos céus”. Se amanhã os alienígenas desaparecerem, deixarão uma pulga atrás de nossas orelhas. Talvez daqui a algum tempo, se conseguirmos nos comportar como uma só espécie, eles retornem – não mais para brilhar nos céus, mas para apertar nossas mãos. Como diria Joseph Campbell, em O Poder do Mito [Editora Palas Athena, 1990], “...quando a Terra é avistada da Lua, não são visíveis nela as divisões em nações ou estados. Isso pode ser, de fato, o símbolo da mitologia futura. Essa é a nação que iremos celebrar, essas são as pessoas às quais nos uniremos”.

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